quinta-feira, 28 de abril de 2011

OS VIAJANTES SECRETOS - PARTE V



Olá aventureiros.

No último post Serin e Lilnen chegaram à cidade de Ghuldan, e o iunar tentou de todas as maneiras conseguir dinheiro e abrigo para eles. No mercado, Serin conseguiu afanar uma jóia de um mercador. Contudo, ao sair da tenda, o homem o chamou novamente. Teria o gatuno de Gelendral sido descoberto? As aventuras de Serin e Lilnen continuam, em busca do Templo da Aurora...


Hornull, um animal de tração típico das terras de Valsegaard, que chega a 2,6 metros de altura.


OS VIAJANTES SECRETOS PARTE V

Caminhando com velocidade e tentando ser discreto, ele apressou o passo, e após alguns metros andados ouviu a voz do mercador novamente gritando: - Ei você aí...

Seu coração palpitou forte, e um turbilhão de pensamentos vagueou na sua mente em um mesmo instante. Serin olhou rapidamente ao seu redor, mas nada ali poderia dar uma boa cobertura para uma fuga. A única opção seria correr, mas as pessoas logo perceberiam que estava fugindo de algo. Respirando fundo, se virou para a tenda de onde o mercador chamava, escondendo o temor por debaixo do capuz. - A propósito, meu nome é Sehngar. Caso não me encontre, procure por este nome aqui nos arredores da parte oeste da feira. As pessoas lhe dirão onde estou.

Serin respirou aliviado, acenando com a mão como resposta. A pedra estava no seu bolso, e certamente garantiria uma soma vultosa de moedas em qualquer lugar. Agora ele deveria procurar Lilnen e sumir dali, pois logo o furto seria percebido e encontrar um membro da sua raça em um local tão pequeno não seria muito difícil. O medo havia passado, e ele esboçava na face um largo sorriso de contentamento. - Mais uma vez Serin, o grande ladino, se superou. - ele pensou, congratulando a si mesmo pela vitória que acabara de conseguir.

Durante o caminho se lembrou do que ocorreu durante a conversa com o mercador. Aquela bagunça que acontecera no meio da praça prenunciou a presença de uma caravana, e esta poderia ser uma boa solução para a tarefa de deixar aquele vilarejo. Ao mesmo tempo Serin pensava o quanto poderia pedir na pedra, pois havia se esquecido de angariar esta informação junto ao comerciante. As moedas roubadas seriam suficientes para um ou dois dias em uma estalagem, o bastante para que conseguisse vender a jóia.

Retomou o caminho até se aproximar do local em que havia deixado Lilnen, e ao longe a avistou, ainda com as crianças. Todos estavam sentados nas escadas de uma edificação, e ao que parecia ela lhes contava algo, a julgar pela forma que escutavam atentamente. Serin a observava, e enxergava alguém muito superior a ele, alguém que de uma maneira ou de outra fazia com que se sentisse uma criança desprotegida novamente.

Lilnen estava em um local muito diferente, apenas com a roupa do corpo e sendo seguida por pessoas que queriam a sua morte. Mesmo assim, na fadiga ou no medo, irradiava uma beleza incomum que não vinha de seu belo rosto, mas sim do interior. Contornada por adversidades, permanecia serena, capaz de encontrar tempo para brincar com inocentes crianças que nem tinham idéia do que ela passava. Sua sensibilidade era tamanha ao ponto destas mesmas crianças não perceberem que por dentro ela estava triste. Serin não era capaz de entender o que ela sentia, pois ambos eram bastante diferentes. Ele cresceu rodeado de miséria e medo, sem saber o que lhe aguardava no dia posterior, e por isso passou a encarar o mundo de uma maneira pessimista. No entanto, ainda tinha um pouco de sensibilidade, suficiente para perceber a bondade nas atitudes da nova amiga, sentimento que o guiava misteriosamente na tarefa de ajudá-la a encontrar o tal Templo da Aurora.

- Muito bem companheira, os deuses sorriram pra nós hoje. Vamos, vamos rápido, quero sair deste vento maldito que tá congelando meus dedos. – Serin disse atraindo a atenção de Lilnen, que olhou para ele contente ao ouvir sua voz. Ela contava para as crianças uma história que ouvia quando ainda era uma criança no reino de Lynph, sobre as aventuras de um grande herói que foi vítima de traidores e buscava recuperar as suas glórias. Ela ainda não havia terminado, mas mesmo assim se levantou, limpando um pouco da neve que havia ficado sobre o seu manto.

- Meus queridos, tenho que ir. Foi muito bom passar a manhã com vocês. Adeus e até breve. - Lilnen disse com um sorriso no rosto fitando as crianças, que ainda a observavam atentamente.

- Mas você não terminou a história. Como Róran consegue se vingar? - perguntou uma delas.

- Não querido, ele não buscava se vingar. A vingança era um sentimento que não existia no coração nobre de Róran. Ele apenas buscava ser o que era antes, a fazer as pessoas voltarem a pensar bem a seu respeito. E vocês não devem se preocupar com o fim da história. Vivam suas próprias. Se tiverem um coração bom como o de Róran, o final da história sempre, não importa o que aconteça, será de muita felicidade. Adeus meus queridos. - ela disse acariciando os cabelos do menino.

Lilnen e Serin se viraram, seguindo à frente enquanto conversavam. Com as poucas palavras de Lilnen o iunar pôde aprender bastante, e a cada segundo que se passava ele a admirava com maior intensidade. - O que você fez durante este tempo todo Serin?

- Bem, eu andei por aí à procura de trabalho, e durante o caminho encontrei uma bolsa com algumas moedas e uma pedra dentro. Por isso disse que os deuses sorriram para nós. Não é muita sorte encontrar estas coisas pelo chão? - ele respondeu sem olhar para ela, pois temia que ao ver o seu olhar Lilnen percebesse que estava mentindo. Serin mentiu durante toda a vida e nunca se sentiu mal com isso, mas quando o fazia para a garota sentia um aperto forte no coração que o sufocava e deixava ofegante.

- Que bom, isso pode ser um presságio de que as coisas irão melhorar para nós dois. Agora temos que descobrir onde fica o Templo da Aurora.

- Eu perguntei por aqui e as pessoas disseram que fica pro norte, mas não souberam dizer a direção exata. Eu vi uma caravana formando na praça de mercado daqui, e um dos mercadores disse que ela seguiria pro norte, ao que parece para uma cidade grande. Lá nós podemos conseguir pistas melhores de onde fica esse mald... esse templo que você procura. - o iunar respondeu, em um breve surto de descontentamento com a situação. Apesar de tudo Serin, no fundo, não estava gostando do que passava. Sua barriga estava vazia e o frio o castigava a cada vez mais.

Após uma breve procura eles entraram em um lugar que parecia uma loja de itens variados. Com o dinheiro recém adquirido compraram alguns pães e frutas frescas, além de um monte de ração, que seriam essenciais na viagem que aos poucos se revelava. Um punhal, uma pedra preciosa, uma mochila com pães, frutas e ração e um cantil cheio d'água era tudo o que tinham. Serin descobriu através do dono da venda que a caravana realmente estava indo para o norte, especificamente para a cidade de Thoriv, que era a maior da região. Eles poderiam seguir juntamente com a mesma, mas provavelmente teriam que andar todo o caminho a pé. Se a viagem fosse longa poderiam ficar para trás, principalmente Lilnen, que já estava bastante cansada e sem dormir bem. Ficar para trás em um lugar desconhecido e de clima tão hostil era a última coisa que ele queria.


***

Serin precisava encontrar alguém que possuísse uma carroça e pudesse levá-los, mas temia o fato de voltar à praça de mercado. Por isso, levou Lilnen até a saída do vilarejo, visando esperar que a caravana saísse. Segundo as informações que corriam entre as pessoas de Ghuldan a formação da caravana já estava sendo terminada, e logo no início da tarde se colocaria no caminho da viagem. Desta forma, Serin e Lilnen permaneceram na saída do vilarejo, sentados em um grande tronco de uma árvore que havia sido arrancada. Esperaram até o momento em que a caravana tomaria a estrada, enquanto faziam um desjejum com os mantimentos recém adquiridos.

A espera durou cerca de uma hora, e enquanto isso conversaram a respeito do que poderiam fazer a partir dali. Serin mostrou a pedra preciosa para a menina, que ficou ao mesmo tempo admirada, tamanha a sua beleza, e também triste, pelo fato da pessoa que a perdeu ter, possivelmente, tido um grande prejuízo. Ele se perguntava o quanto aquela pedra valeria, e se através da venda da mesma se tornaria um sujeito rico. Seus pensamentos foram interrompidos com um súbito e alto barulho provocado no vilarejo. Ao olhar para a direção dos sons ele viu várias carroças e pessoas passando entre as edificações, vindo na direção em que estavam. Era a caravana, finalmente...

***

Homens vestidos com armaduras de couro batido, cobertos por grossos mantos de peles e portando espadas e lanças vinham à frente montados em cavalos de uma raça que eles nunca haviam visto. Provavelmente os guardas mercenários da caravana. A presença deste tipo de pessoas no grupo denotava perigo, e isso deixou Serin bastante preocupado. Logo atrás vinham várias pessoas e as carroças, puxadas por criaturas estranhas para Serin e Lilnen. Elas tinham a face semelhante à de um boi, com dois grandes chifres pretos na fronte e dentes pontiagudos protuberantes. O corpo também era semelhante ao de um bovino, porém, quase duas vezes maior e inteiramente coberto por um pêlo espesso, de cor branca. As pernas eram cobertas pela mesma camada de pêlos, sendo grossas e musculosas, com patas terminando em garras. Estes animais demonstravam ser bastante fortes, pois as carroças puxadas eram imensas, provavelmente as que continham as mercadorias de quem conduzia a caravana, como era de costume nas terras do sul. Agora só lhes restava encontrar alguém disposto a permitir uma viagem em uma das carroças.

Lilnen observava aquilo tudo, vendo pessoas simples, até mesmo debilitadas, se colocando a caminhar juntamente das carroças. Valsegaard definitivamente não era como Lynph, e isto podia ser visto na vida que os seus habitantes levavam. - Espere aqui Lilnen, eu vou ver se consigo convencer alguém a permitir que viajemos em alguma das carroças. - disse Serin, se dirigindo até as carroças.

Ele olhava cada uma delas, perguntando às pessoas se ele e uma garota poderiam acompanhar na viagem, passíveis de ajudar em qualquer tarefa proventura necessária. A viagem duraria cerca de três semanas, e era de extrema necessidade que conseguissem ao menos um abrigo durante as noites em que a caravana estivesse parada. Serin perguntou a várias pessoas, mas a maioria nem mesmo dava atenção, temendo a companhia de estranhos.

Após vários pedidos ele se voltou para um carroção de porte médio, puxado por duas das criaturas estranhas que havia visto. Guiando os animais estava um carroceiro de meia-idade, notório pelos cabelos e a barba grisalha. Além do rosto, apenas os braços podiam ser vistos segurando as rédeas, pois todo o seu corpo estava coberto por um manto de peles grosso e de cor escura.

- Como vai senhor? - Serin saudou cordialmente, completando logo em seguida: - Vejo que viaja sozinho, e por isso tenho algo lhe pedir. Preciso acompanhar esta caravana até a cidade, mas estou com uma garota e acredito que ela não conseguirá a pé. Se não for incomodá-lo, peço que permita que nós o acompanhemos, e em troca poderei ajudá-lo em qualquer tarefa que precise. Farei um negócio quando chegar na cidade, e posso lhe pagar algumas moedas quando chegarmos lá. - Serin estava sem o capuz, e andava lentamente acompanhando a carroça enquanto falava.

- Onde está a menina? - perguntou o carroceiro sem desviar o olhar dos animais.

- Ela está logo ali, sentada naquele tronco. - respondeu apontando na direção de Lilnen.

- Tudo bem bestial, ela pode ficar aqui, mas você terá que ir andando. - disse o carroceiro novamente, desta vez olhando para o iunar de uma maneira severa.

- Sem problemas meu caro senhor, eu posso seguir a pé. - Serin respondeu franzindo a testa, pois aquela era a primeira vez que alguém o chamava de bestial. Ele olhou para a direção em que Lilnen estava, mas ela observava a carreira que passava, totalmente distraída. Serin gritou pelo seu nome, acenando com a mão para que ela viesse até a carroça do grosseiro condutor.

- Olá senhor, esta é a garota que me acompanha. - disse Serin com o braço em volta dos ombros de Lilnen. O carroceiro olhou para ela, e seu semblante rude mudou para um de surpresa.

- Como vai senhor? Eu me chamo Lilnen, e agradeço a bondade de deixar que nós viajemos em tua companhia. - disse ela com a voz calma. - Este é Serin, um amigo que me acompanha em minha viagem. Prometo que o senhor nem mesmo vai notar a nossa presença. - ela completou.

- Eu sou Dorgun, e preparem-se para uma viagem difícil. Os ventos do inverno já estão chegando e nos atingirão no meio do caminho. Pode se acomodar em algum canto da carroça e descansar. Você parece não ter dormido e nem comido bem durante os últimos dias. - disse o carroceiro mexendo as rédeas para que os animais acelerassem o passo. Serin a ajudou a subir, e lhe deu a mochila para que não precisasse carregá-la durante o caminho.

- Você não vem Serin? - Lilnen perguntou para o iunar.

- Não Lilnen, eu vou andando para não pesar muito a carroça. Tente dormir um pouco e descansar. - ele respondeu sem fitar a garota, se lembrando das palavras do carroceiro. Colocando o capuz, continuou o caminho ao lado da carroça, enquanto pensava o que o aguardaria à frente...


Em breve, mais aventuras dos viajantes secretos. Novos companheiros se juntarão à jornada em busca do Templo da Aurora...

2 comentários:

  1. Comecei a ler a partir desta postagem e estou amando a saga dos viajantes secretos. Sou escritora também e gosto deste tipo de aventura. Você já publicou o livro? Se publicou me passa as informações como título e qual editora. Moro em Teresópolis, será que encontro por aqui?
    Eu te encontrei pelo Orkut, na comunidade Novos Escritores. Vou te adicionar lá, ok?

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  2. saudações!!! é nesses gloriosos dias que vos venho informar que já está disponível para aventureiros dos 4 cantos da terra média novas formas de encontrar pergaminhos sobre o assunto RPG em geral. confiram e adentrem no conhecimento e troca de experiência do nosso novo blog, acessem:http://www.acertocritico.com.br/

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