segunda-feira, 13 de julho de 2009

OS VIAJANTES SECRETOS PARTE III




Após deixarem o barco às pressas, fugindo dos marinheiros remanescentes, Serin e Lilnen caminharam enfrentando trevas, frio e neve sem rumo pela região costeira de Valsegaard. Ao encontrar um celeiro no meio do nada eles se recostaram para recobrar as energias, temendo que fossem encontrados. O primeiro dia nas terras geladas de Valsegaard se aproxima! Quais surpresas a jornada desse primeiro dia fora do navio lhes reserva?


OS VIAJANTES SECRETOS PARTE III


Serin abriu um dos olhos com dificuldade. Seu inconsciente pedia por mais algumas horas de descanso, mas ele sabia que corria perigo ali e, por isso, digladiou com o cansaço até conseguir levantar a parte superior do corpo. Após um longo bocejo e um esfregão nos olhos o iunar percebeu que o seu senso de tempo continuava apurado. A noite ainda não havia abandonado o ceú, e ele poderia deixar aquele lugar antes que alguém viesse averigüar os animais.

Lilnen dormia em um canto, respirando com uma suavidade bela e cativante. Ele nunca havia se interessado por humanas, mas ao observá-la via algo além de beleza, algo que o compelia a continuar fitando pela eternidade. A pele clara, os cabelos negros e brilhantes como o ceú das noites de inverno sulistas e os traços triangulares deixavam seus gestos ainda mais suaves. Serin a admirava, por ser tão frágil e inocente e em momento algum ter reclamado de tudo aquilo que estavam passando. No seu íntimo sentia que os infortúnios não parariam por ali. Seu sexto sentido poucas vezes falhara.

Uma pontada de dor na barriga o lembrou que não comia desde o início da noite anterior. Toda a comida que tinham guardado se molhara na água do mar. A fome poderia ser outro grande problema, e mesmo se alcançassem uma cidade que porventura estivesse por perto, a falta de dinheiro não permitiria que conseguissem alimento. Serin chamou a garota, murmurando o seu nome. Ela não demonstrava qualquer tipo de reação, mergulhada em um sono profundo, respirando suavemente com o rosto de lado e as mãos por debaixo do mesmo, apoiando-o.

Se voltando para o céu escuro lá fora, imaginou o que poderia fazer para conseguir dinheiro. As poucas moedas que tinha antes de entrar no barco foram perdidas de alguma maneira, e o que havia lhe sobrado eram roupas úmidas, seu punhal e um pingente que guardava com extremo zelo. Cercado de árvores e frio, Serin não conseguiu encontrar uma solução para o problema. Acostumado a ficar sempre cercado por pessoas e muitas edificações, nada lhe vinha à mente. Tornou a olhar para Lilnen lembrando que a noite já estava perto do fim, e deixou os pensamentos de lado para se ater à continuação da jornada.

Serin tocou o corpo da menina, forçando-a a acordar. Abrindo os olhos com dificuldade, sorriu quando viu o amigo olhando atentamente para seu rosto com dois pontos amarelos brilhando. -Já está na hora não é Serin? - questionou.

Apenas com um aceno da cabeça o iunar respondeu positivamente, e com um salto alcançou uma tora de madeira até, após outros dois, chegar ao teto. De lá de cima voltou o olhar novamente para Lilnen, que procurava suas roupas para ver se estavam secas. Contorcendo o corpo, passou através da entrada que era iluminada pela tocha com facilidade. Escalou até o telhado e olhou lá para fora como um grande felino sobre um monte, vigilante, constatando que havia nevado durante toda a madrugada em razão do fino tapete branco que cobria a relva ao redor. A noite ainda dominava o céu, e continuaria por cerca de uma hora. Tempo suficiente para que saíssem dali.

Serin pensou em levar um dos cavalos para ser vendido na cidade e conseguir uma boa soma de ýrgs, mas temia que o barulho provocado pelos animais acordasse os donos e os denunciasse. Além de tudo, não queria desagradar ou desapontar Lilnen, que possivelmente não concordaria com tal ato.

Por fim, decidiu então que seguiriam para o caminho do barco, onde provavelmente existiria uma estrada para a cidade na qual as cargas seriam depositadas. Voltou para dentro do estábulo com a mesma velocidade e parou, olhando para os cavalos enquanto sua mente indagava a respeito do plano que acabara de pensar. Como se conversasse consigo mesmo, Serin fez um sinal negativo meneando a cabeça a reprovar novamente sua idéia, e voltou o olhar para a amiga, que já havia se trocado.

- Vamos voltar pelo caminho que fizemos ontem, e aí encontramos uma estrada que leva pra alguma cidade. A maldita neve que caiu apagou os rastros dos marujos de ontem à noite. Que Lithlen nos guie pelo caminho certo. - disse Serin com um olhar severo e irritado por não conseguir uma solução imediata para os problemas que os rodeavam. - Vamos logo! - ele exclamou.

– Lithlen nos guiará. Ela sempre o faz com seus escolhidos, e acredito que estamos entre eles.

Assim, eles saíram do estábulo ainda durante a noite, deixando as marcas de suas presenças na neve que dominara todo o chão. Serin voltou pelo mesmo lugar, como se conhecesse cada árvore dali há muitos anos. Quando o sol apontou no horizonte disparando feixes de luz nas trevas Lilnen pôde enxergar, finalmente, como era aquela terra tão distante. Valsegaard, pelo menos naquela região, guardava uma certa semelhança com as florestas de Melnor ao sul, de onde ela havia tomado o navio. No entanto, o ar e o frio dali eram diferentes, mais cortantes e gelados do que qualquer outro que já havia sentido.

Durante alguns minutos caminharam até alcançar a costa, no exato local em que o navio havia ancorado. Na noite anterior este mesmo caminho parecia ser muito mais longo, quando Lilnen não conseguia sequer ver o que estava à sua frente. O navio já não estava mais ali, e somente restos de madeira quebrada e tochas queimadas haviam ficado pra trás. Uma falha entre as árvores indicava a Serin que por debaixo daquela neve havia uma estrada, provavelmente utilizada com uma boa freqüência. Ele não dizia nada, e Lilnen apenas acompanhava, olhando ao redor. Sons de pássaros muito tímidos e o farfalhar das copas de árvore nas proximidades eram as únicas companhias dos dois viajantes.

Após seguir este caminho entre as árvores avistaram ao longe uma fumaça escura se misturando ao azul límpido do céu, que neste momento já estava totalmente claro. O sol reluzia no horizonte como uma vela dentro de um quarto preenchido pela claridade do dia, opaco e sem vida. Para o povo de Valsegaard o sol desta maneira era bastante reconfortante, pois em poucos momentos do ano isto ocorria. Para Lilnen, acostumada com os campos ensolarados de Lynph, esse acanhamento da estrela maior deixava o dia triste, convidativo para que permanecesse em casa bebendo chá quente enquanto lia histórias. Contudo, naquele momento a última coisa que ela poderia fazer era voltar para casa, muito menos para ler ou tomar chá.

Ambos seguiram a direção da fumaça, que vinha de um aglomerado de edificações a poucos metros de onde estavam. - Um vilarejo. - Serin disse tentando enxergar ao longe.

Lilnen também olhou para a direção do vilarejo, sentindo-se ao mesmo tempo tranqüila e preocupada, pois finalmente poderia descansar de verdade. No entanto, por outro lado, estava se dirigindo para uma grande aglomeração de pessoas, o que facilitaria o aparecimento dos sujeitos que a seguiam. - Não é possível que até aqui, nesta terra distante, os agentes de Siranan conseguirão me encontrar. Que Leuros proteja meus passos... nossos passos. - ela falou para si mesma enquanto continuava o caminho.

O vento soprava forte, zunindo entre as árvores ao redor e remexendo as folhas. A grama estava molhada e pintada de branco, pois alguns flocos da neve que caíra na madrugada ainda perduravam. Ainda não tinham alcançado o vilarejo, mas já de longe podiam ver as pessoas que o habitavam, de pele clara como a pura neve que caía dos ceús durante quase todos os dias do ano em Valsegaard. Se vestiam com roupas levemente diferentes, de aparência mais rústica e pesada, naturalmente devido ao clima.

Esta rusticidade também pôde ser percebida nas edificações, construídas com tijolos mal cortados e madeira, de telhados lisos e angulares, de uma maneira que não era encontrada em qualquer outra cidade ou vilarejo das terras ao sul. Lilnen pensou a princípio que toda aquela arquitetura rústica era devido ao fato do lugar ser apenas um vilarejo, mas no futuro descobriria que Valsegaard como um todo tinha esta característica tão peculiar.

- O que vamos fazer Serin? Não temos moeda alguma, e pelo que ouvi falar, as daqui são diferentes dos ýrgs que usamos no sul. - questionou a garota. Serin baixou a cabeça pensando, mas nada além de tentar adquirir as coisas à sua maneira, como fazia em Gelendral, lhe vinha à mente.

- Vamos andar por aí e conhecer o lugar. Quem sabe conseguimos achar alguma coisa útil? - o iunar respondeu, olhando ao redor para encontrar uma vítima. - Estas pessoas são tão maltrapilhas quanto os mendigos de Gelendral. Eu é que vou acabar sendo roubado aqui se não ficar com os olhos abertos. – ele por fim pensou ao observar as pessoas que iam e vinham do vilarejo.

Realmente, para alguém como ele, os habitantes de Valsegaard se assemelhariam a pessoas à beira da miséria, pois suas roupas geralmente eram cortadas de qualquer maneira e confeccionadas com tecidos rústicos como peles de animais, ideais para proteger do frio.

A estrada terminava na entrada do vilarejo, onde estava afixada uma placa de madeira escura e velha, com a seguinte palavra entalhada na mesma:



- Deve ser o nome desse lugar. - Serin pensou...


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3 comentários:

  1. Legal o Blog!
    Que tal uma parceria? Também tenho um de histórias, o RPGS.

    http://rpgsproject.blogspot.com/

    Dá uma olhada e me diz o que acha.
    Abraços

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  2. Achei teu Blog no Orkut do Saladino. Visite o meu quando puder, leia e deixe tua opinião ácida sobre os contos.

    www.multiversoovolun.blogspot.com

    Grande Abraço

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  3. Opa... vlw pelos comentários galera... parcerias são sempre bem vindas...

    vou visitar ambos aqui...

    abraços!

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